sábado, 27 de novembro de 2010

No campo caminhando

Pela esquerda, regra de caminhante,
lá vou asfalto fora de manhã
passada forte, segura e constante,
protector solar para pele sã.
Talvez entre em transe como um xamã
sem fumo, bebida ou estimulante.

Basta fazer-me caminho
para Ti que és meu carinho

Amarelos, verdes secos, castanhos,
Primavera longe e pouco chuvosa.
Propriedades de diversos tamanhos
com população pouco numerosa,
muito arbusto, árvore, esteva cheirosa,
hortas, pomares e poucos rebanhos.

Andando estou mais perto
de receber-Te em deserto

Para lá vou na estrada principal
com atenção ao trânsito que passa
levo pela frente o sol matinal
na esperança do bem ele me faça.
Poderia ter água numa cabaça,
mas só pela rima ficaria mal.

Penso em Ti, meu Senhor,
meu bálsamo, meu licor

Esta parte serve de aquecimento
alguns ziguezagues e longas rectas,
trajecto fácil, bom nivelamento,
quintas, quintais ou parcelas discretas,
sinais, tabuletas e poucas setas,
marcos, sebes e muros de cimento.

E a minha mente vagueia
pelo vazio que incendeia

Por onde passo há cães a ladrar.
Pergunto-me: mas serei eu ciborg?
Exterminador ou arma militar
secreta que leva muitos à morgue?
(ver teoria da conspiração ponto org)
Passo por eles sem sequer olhar.

Onde estás minha constante
vapor que me leva a diante?


Depois de passar pela aldeia vizinha
começa a outra parte do trajecto,
mais sinuosa, familiar, mais calminha,
motivo e origem deste projecto:
poema pouco lírico e mais concreto,
onde fui achar o lugar da Hortinha.

Vento será meu sustento
e o Sol o meu firmamento

Curva e contra-curva, uma depressão,
árvores, casas em boa harmonia,
numa bucólica distribuição
(qual Shire que o Tolkien nos descrevia
e onde sonhamos visitar um dia),
faltando água nos riachos de Verão.

E o Teu sopro minha casa
nascente do rio que vaza

Sigo em frente, não há tempo nem real.
Minha sombra são os livros que leio
e os que escrevo, infinito Carnaval,
personagens minhas, eus que premeio,
pedaços de alma livres e sem freio
gemidos de prazer espiritual.

Em tudo que faço anelo
por Ti, pedaço mais belo

Última casa e o campo se instala,
passo por terras semi-cultivadas.
Gosto dos odores que o mato exala,
das ceras ondulantes e douradas,
das surpresas algures reservadas,
da beatitude que busco e me embala.

Tu és o eco por mim ouvido
no ouro vazio do sentido

Eu também gosto das casas dispersas
pelos montes e vales isolados.
Divagando sobre as razões diversas,
que trouxeram os donos a estes lados,
esqueço a sudação, os pés cansados
e as citadinas mazelas submersas.

No alto suave refrigério
na brisa dou-me ao Mistério

Longa caminhadas a minha no campo,
no asfalto da estrada e não pelo pó.
Sei lá diferenciar o figo lampo
e as ervas que conhecia a minha avó!
Perdeu-se o saber e sinto-me só.
Para esta mesa não há nenhum tampo.

Minha busca no deserto
sangro do meu coração aberto

No caminhar procuro o Absoluto.
No calor procuro fazer-me casa,
lugar de acolhimento e não de luto.
Largo bagagens, serei maré vaza,
meu peito por segundos extravasa,
por momentos sou inteiro, limpo, enxuto.

E esqueci-me de falar
dos equídeos a pastar

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Eu que Te busco

Caminhante, paladino,
sola dos seus pés calosa,
presença de cristal fino,
no olhar um eco de sino,
no peito espinho de rosa.
Fita a meta lá... custosa.

domingo, 29 de agosto de 2010

Breve encontro

Quando caminho estou perto de Ti,
numa sombra fecho os olhos e sinto.
A roupa foi ao vento que pedi,
roupa e asas que me levam daqui,
levam e trazem perfume de jacinto.

Teu afago de cristal, um quente elevo,
júbilo de lonjuras percorridas.
Há lágrimas que soltar não me atrevo,
não vão elas cavalgar pelo relevo
e para sempre por mim esquecidas.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Onde

Onde queres tu chegar
Espelho de ilusões?
Onde, perfume almíscar?
Onde, pérfidos botões?

Onde, perene procura
Por esses caminhos da alma,
Da sempiterna loucura
Que nos atormenta a calma?

Onde, caminho de anseios
Das profundezas do ser?
Onde, raiz de vis receios
Onde todos vão beber?

Hei-la, demanda rugosa.
Hei-la na fome e na sede,
No desejo cor-de-rosa.
Hei-la subindo a parede.

Hei-la, na gélida pele,
No desamparo relento,
No cativeiro de fel,
No vago sopro do vento.

Onde estás tu que procuro?
Onde estás que não te vejo?
Onde e sempre, sempre e juro,
Onde estará o teu beijo?

terça-feira, 18 de maio de 2010

Orion

Orion não se vê daqui,
Não se vê e não olha
Mas também não te vejo a ti,
A água na pedra molha.

Na pedra molha mas fura;
Pedreira é o coração.
Não te vejo sina dura,
Dói a pedra dói o chão.

E é de cão o meu sofrer
E é de cão o meu estar
E é de cão pedra o meu ser
Cão pedra flutua pelo ar.

E Orion só é desnorte
Pois o norte ursa maior
Ou pequena, sem ti morte.
É cão, é pedra e é dor.

Caciopeia centopeia
Rocha cão pedra lunar,
Meu ser é o ar de Pompeia
Que bombeia para amar.

E Orion não se vê daqui
Nem dali nem de acolá,
Meu amor, o quero aqui,
Meu amor, o quero já!

domingo, 16 de maio de 2010

Soneto

Pois olha como brilha o sol em ti,
Mesmo de noite, quando estás feliz.
Ouve o que o teu íntimo bem te diz
Acerca das boas coisas que não vi.

Ao teu lado, a surpresa bem condiz,
Tudo é uma alegria, tudo sorri.
A natureza não está em si
De contente por ser a tua matriz.

Totalmente reflectes tu pureza,
Do teu corpo à tua alma és uma flor.
A tua simplicidade é só grandeza,

Pois as pedras até morrem de amor
Ao sentirem os passos da beleza
Que transportas e dão-te esse sabor.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Numa alta montanha

Numa alta montanha
Abaixo dos cumes,
Aridez tamanha
Só pedras e gumes.

Tufo verdejante
Em nesga de terra,
Num ermo gigante
Em forma de serra.

Verde colorido
Super compactado,
Ultra comprimido,
Mega saturado.

Oásis miniatura
Pouco ar, muito sol,
Vento com fartura,
Terra nada mole.

É na adversidade
Que este tufo vive.
Sem dificuldade
Nada sobrevive.

Dá consolo à vida
Exemplos assim,
Luta bem renhida
E ganha no fim.

Tudo se renova
E a luta também.
É o sal da prova,
Prazer que se tem.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Em redor nada floresce,
Perto de mim só há gritos.
É neste medo que cresce
A vontade de ser ritos.

Não há flores p’ra te dar
No meu mundo inventado.
Mas no real tens de aguentar
Dores e eu desesperado.

Às vezes penso que sou
Como aquele mito antigo
Que em pedra tudo tornou
No olhar, sendo ou não amigo.

Se não gosto do que vejo
O sonho não é melhor.
Quem me dera ser um beijo
E nada ser em redor.

sábado, 8 de maio de 2010

Declaração

Sou amante do momento,
do instante, da inspiração,
não gosto do polimento,
nem do vagar do artesão.

Do meu tempo sou produto
e filho desta instrução,
por mais que lute, sou fruto
de forças em colisão.

Tenho limitações sérias,
fracas bases culturais,
com alguns genes de férias
sou inferior por demais.

No entanto gosto de rimas,
de histórias e de escrever,
evito o uso de limas.
Saiu? Não volto a mexer.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

gostaria de cantar com belo canto
belas frases e imagens de esplendor
belas palavras de profundo amor
dizer-te sou feliz sob o teu manto
e se ver que isso não é dizer tanto
dizer és o meu mundo ó meu senhor

sexta-feira, 26 de março de 2010

Desânimo

O desânimo assedia-me, Senhor.
Necrófagos rondam meus territórios
com inúteis construções de areia
em praias de marés vivas.

O coração rebela-se
contra o que a cabeça sabe.

Desânimo
Desânimo
Procuro uma janela
Procuro uma réstia por entre as nuvens
Desânimo
Desânimo, canta o corro alado,
espectros assediam meu coração infantil
demente
Desânimo

Faço-me insensível
e a dor atinge-me
onde não tenho couraça.

A cabeça diz-me outra coisa,
mas o meu ser é coração
e desânimo...

sábado, 23 de janeiro de 2010

tenho aquela sensação boa
de estar na iminência de algo
aquela convicção de que vai ser
mesmo desta vez que está perto

veludo no coração suave
vogar num luminoso rio
noite fora serenamente
sou uma lontra descansando

é amor sem objecto
aberto ao universo
fonte jorrando invisível
perante isto não sou nada

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

intermezzo

eu gosto do eco
lá longe ouço o eco antes do som
apesar do eco ser a sombra do som
eu gosto do eco

eco
eu tenho amor ao som
o som deu origem ao eco
eco

...
mesmo quando o som cá chegar
quero ter também o eco
...

eu amo o som
criador de todo o eco meu irmão
sim sou eco desse som meu coração
eu amo o som

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Is you, not me, greatfull tree
Whom is still and aí parada.
Your view beutifull can be,
If you grow up, stop charada.

I’m wild
I’m wind
I’m not tree
A desventura só pode be
Se ser não é parecer
Stop charada
Stop charada
I’m not tree
I’m not tree
I’m not tree
I’m not tree
I’m not tree

Let me be
Go away por aí.

12-09-1997

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Locked

A croud is locked inside of me,
Every person that i can be,
Many people, may people,
Over there and over aqui.

People minha que desconheço
Gente ou máscara, eu sei lá.
Estremeço locked in myself,
A crowde with me cá dentro,
Cá dentro e cá fora people
Nada de mim conhece.

Strange crowde, strange me,
Quero ser o que vi.

02 e 04-06-1997

sábado, 26 de dezembro de 2009

This is the end, my only friend, the end

Ninguém vai à fonte
Nem Helena ou Joana,
Maria ou Susana,
Perdido no monte
Choro e peço mais
Mais força que imana
Foguetes na ponte
De artifício reais
E a Suíça é tão longe
Fiquei sem ninguém
Sem eu sem meus pais
Resta-me ser monge
Depois fazer bem
O que sempre fiz
O horizonte além
E eu aqui feliz
E eu aqui feliz
Com dores também
Sofro do nariz
Ninguém está aí
Ninguém que importe
Toda a gente diz
Escreve tem sorte
Escreve de ti
Ai, pára, desdiz
Ai, foge da morte
Ai ai ai ai ai
Gosto do meu pai
E da minha mãe
O cantor é parvo
Ou não tenho norte
Ou, i’m just happy
Ou, i’m just happy
E a tormenta volta
Corro pela noite
Estrada deserta
Vento é um açoite
Curvo numa recta
Autocarro azul
Crianças são loucas
Das casas da Epul
As secas são poucas
Eu sou só um parvo
Eu sou só um parvo
But i’m just happy
But i’m just happy
Isto e muito mais
Que por não saber
Não digo aos jornais
Se me engana Helena
Se Joana ou Maria
Uma me envenena
Outras têm punhais
Ainda i’m just happy
Ou eu sou um parvo
Por ser tão happy
Elas são iguais
Quem me mente não
Me engana, pois não?
Se isto é o fim
Pois então que seja!

18-09-1997

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

pulsar

pulsar


oscilação metafísica entre eu e tu


pulsar

sssssssssserpentear latejante


pulsar
latejar


a vida é uma sucessão de latejos
picos altos baixos picos
ou meros lampejos do pulsar transcendente
felizes sorrisos ricos




pulsar
assimetria
entre a noite e o dia
excepto a certa monotonia
tudo me range crepita e arrrrrrepia

substrato ululante imperceptível
imensa força invisível
além terrível
eco nível
pulsar


pulsar
pulsar
pulsar
bolsar
gotejar
latejar
pulsar
pulsar
pulsar

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

as palavras que te posso dizer
já as sabes são de tua invenção
o que tenho cá dentro que me dói
lê-se no livro aberto o coração

sou uma criança tola e mimada
que não reconhece o amor que lhe têm
por isso corro cego por entre espinhos
amando a dor e as sensações que vêm

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

sinto-me como se estivesse sempre no ponto de partida,
mas a cada dia estou mais à frente ou ao menos num local diferente

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

secreto tesouro

tenho um tesouro secreto bem guardado num lugar só meu
tenho um tesouro secreto guardado numa caixa de veludo e marfim
é lindo meu tesouro
é lindo e precioso
contemplá-lo faz-me bem faz-me querer ser bom ser melhor ser digno de tanta beleza
tenho um tesouro secreto é um amor clandestino

tantas vezes num grupo me sinto só com ele nunca estou sozinho
tenho um amor secreto quando penso nele não me sinto só
trago-o comigo
ele me faz bem
já nada para mim é castigo pois em ti me apoio
só te digo aquilo que nem sei

tenho um secreto amor precioso para mim é
é forte me interpele me desassossega
é um amante apaixonado que atira pedras à minha janela de madrugada
olha-me nos olhos vai fundo no meu coração

tenho um amor secreto é uma bailarina que dança para mim
rodopia em pontas salta e caminha tão suave como a brisa fresca das manhãs de Setembro
mal toca no chão
me fascina me atrai me seduz com sua elegância e beleza

este amor é um tesouro que guardo no lugar mais caro mais querido que tenho
se corresse o risco de o perder venderia todo o meu ferro-velho para o guardar
correria atrás do vento subiria à montanha mais alta caminharia à nação mais distante
sou muito zeloso do meu tesouro subo ao sótão lá me tranco e procuro ser um com ele
quero me revestir do seu ouro logo por baixo da pele
quero tê-lo em cada menina do olho lá brilhando me colorindo o Universo
quero que os meus ossos sejam do seu marfim

tenho um tesouro secreto
shiu é um bebé dormindo nos meus braços
shiu é a paz de um claustro
shiu não falem escutem é o apito de um barco lá longe
é uma palavra importante sussurrada na noite
shiu silêncio

tenho um tesouro secreto caminho na multidão não consigo ser discreto só não vê quem não olha tenho-o exposto no coração