sou chamado a ser uma planta silvestre
tenra frágil cheia de força
sou chamado a ser discípulo e não mestre
sou chamado à gruta do poço da minha cisterna
bem fundo bem só trono único
sou chamado à solidão duma relação eterna
Vi tudo o que se faz debaixo do Sol e achei que tudo é ilusão e correr atrás do vento. Ecl 1, 14
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
não posso ser dono do desconhecido
não
não posso
aquele homem lutou
trabalhou
afadigou-se em mil e uma empresas
queria isto
queria aquilo
aquele homem corria atrás de um sonho
e o que aquele homem queria
ser dono do impossível
pensa bem homem apressado
vê lá bem no fundo da tua existência o que buscas
será o princípio da cadeia
causa e efeito
sobes uma escada em busca de uma única coisa
pergunto-te
o que é a felicidade
o que é o sucesso
o que é o amor
o que é a tristeza que sentes quando alguém faz-te mal
sentes tédio e frustração quando
comes para quê
bebes para quê
fazes amor para quê
queres o bem-estar para quê
o sorriso do teu bebé diz-te o quê
onde tens os teus alicerces
onde pões a tua segurança
homem não podes ser dono do desconhecido
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Manto Negro
Quando te vejo na calçada
nesse teu andar imperfeito
afunila-se o horizonte
manto negro cobre o meu sangue
Tens um sorriso natural
de quem povoa os sonhos bons
mas quando fito o teu olhar
manto negro na minha mente
Pára o tempo e o ar rarefeito
somos imagens em fluidez
câmara lenta vibrante
manto negro tecido da alma
Volta a pulsar o coração
vai triste por não se perder
por não florir no teu olhar
manto negro cobre o meu sangue.
domingo, 15 de novembro de 2009
A ressaca
Depois do afluxo de sangue vem...
Depois da saliva secar vem...
Depois do vento passar vem...
Depois do esquecimento vem...
Depois do golpe louco vem...
Depois do seguir em frente vem...
Depois do grito, do gesto, vem...
Vem, vem, vem, vem...
Antes do sossego vem...
Antes do recomeço vem...
Antes da nova porta vem...
Antes da aceitação vem...
Antes do perdão vem...
Antes do descanso vem...
Vem, vem, vem, vem...
O bafo ácido derrubou pinhais inteiros, lá no norte do vento, gelado o gel da vertigem dos pensamentos irracionais. Ele é forte, é forte, é de matriz granítica casada, em união de facto, com o basalto da loucura. Num ápice. Numa batida do coração. Num grão de areia entre a lente e a íris tudo se desmorona.
sábado, 14 de novembro de 2009
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Certo dia numa gare
A ocidente do meu lar
Senti-me só e intenso,
Integrado e propenso
A este melancólico olhar.
Sentado num banco corrido
Ali estou eu inteiro, contido,
Atento, discreto, olhando
Quem vai e vem passando.
Que diversidade, que colorido!
Gente que vem, gente que vai,
Gente que entra, gente que sai,
Pergunto-me que histórias trazem
O que na vida elas fazem.
Serás casada ou mãe? E tu pai?
Local de passagem é mesmo assim:
Deserto, triste, isto para mim.
Procuro, anseio, por raízes,
Relações, olhares, felizes
Que tragam conforto no fim.
Conheço para onde vou,
O prédio que alguém desenhou.
Sinto saudades de ti que passas,
De ti e de ti o que quer que faças,
Minha alma se agarrou.
Tanta história desconhecida
Que passa por mim distraída,
Corres para o autocarro suburbano
E fazes isto todo o ano.
Quero sair e seguir a tua vida.
Nesse dia senti-me fantasma,
Só, intenso, mero plasma.
Perto de casa estava
Neles nela me achava
Nela eles eram asma.
Minha casa eras tu e tu e tu,
Leva-me sinto-me nu,
Proteges-me deste vazio,
Prometes-me calor no frio
E desvendar esse tabu.
Nesse dia de volta ao lar,
À casa não estava a chegar.
Cada pessoa que por mim passou,
Um pouco desse sítio de mim levou,
Levou para nunca mais voltar.
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